Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem ganhado destaque em todo o mundo como opção terapêutica em várias condições de saúde. A planta Cannabis sativa contém mais de 100 substâncias chamadas canabinoides, mas duas delas são as principais: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
O THC é o responsável pelos efeitos psicoativos da cannabis — a sensação de “estar chapado”. Embora tenha alguns usos terapêuticos, pode causar alterações cognitivas, ansiedade, dependência e até sintomas psicóticos. Em doenças neurológicas como a Doença de Parkinson, o THC pode piorar alucinações, confusão mental e perda de memória. Por isso, não é recomendado nesse contexto.
Já o CBD (canabidiol) não causa dependência nem altera a consciência. Além disso, apresenta propriedades ansiolíticas, analgésicas, anti-inflamatórias e antipsicóticas. Por isso, tem sido o derivado da cannabis mais estudado para tratar sintomas não motores do Parkinson, como ansiedade, distúrbios do sono, dor e psicose.
Mas será que o CBD é realmente eficaz? É esperança real ou apenas moda? Vamos ver o que a ciência já sabe até agora.
O que é o canabidiol (CBD) e como ele age no corpo?
O canabidiol (CBD) é um composto natural da cannabis que age no sistema endocanabinoide, um conjunto de receptores espalhados pelo corpo e pelo cérebro. Esse sistema ajuda a regular funções como:
- Sono
 - Humor
 - Dor
 - Apetite
 - Memória e aprendizado
 - Resposta inflamatória
 
Graças a esse efeito regulador, o CBD vem sendo estudado como aliado em várias condições neurológicas, como epilepsia, esclerose múltipla e, mais recentemente, Parkinson.
Por que o CBD é estudado no Parkinson?
Na Doença de Parkinson, há perda progressiva dos neurônios que produzem dopamina, resultando em sintomas motores (tremores, rigidez, lentidão) e não motores, que podem ser até mais incapacitantes. Entre eles:
- Ansiedade e depressão
 - Distúrbios do sono
 - Dor crônica
 - Psicose (delírios e alucinações)
 
Muitos desses sintomas não respondem bem aos tratamentos convencionais. É justamente aí que o CBD pode ter papel complementar, trazendo melhora na qualidade de vida.

O que dizem os estudos até agora?
A pesquisa sobre CBD no Parkinson ainda está em fase inicial, mas os resultados são promissores:
Ansiedade e qualidade de vida
Estudos brasileiros pioneiros mostraram que o CBD pode reduzir a ansiedade e melhorar a sensação de bem-estar em pacientes com Parkinson.
Distúrbios do sono
O CBD pode ajudar em casos de insônia e no distúrbio do sono REM, quando o paciente se movimenta ou “atua” seus sonhos, podendo se machucar durante a noite.
Psicose no Parkinson
Pacientes com Parkinson avançado podem desenvolver alucinações. O CBD demonstrou efeito antipsicótico, reduzindo esses sintomas sem os efeitos colaterais comuns dos antipsicóticos tradicionais.
Sintomas motores
Até o momento, não há evidências sólidas de que o CBD melhore tremores ou rigidez. Seu foco é, de fato, nos sintomas não motores.
O CBD substitui a levodopa ou outros medicamentos?
👉 Não.
A levodopa continua sendo o tratamento principal para os sintomas motores da Doença de Parkinson.
O CBD deve ser visto como tratamento complementar, principalmente para sintomas como ansiedade, dor, insônia e psicose. A decisão de uso precisa ser feita em conjunto com o médico, considerando possíveis interações medicamentosas.
Efeitos colaterais e riscos
O CBD é geralmente bem tolerado, mas pode causar:
- Sonolência ou fadiga
 - Tontura
 - Náusea ou diarreia
 - Alterações no apetite
 
Além disso, pode interagir com medicamentos usados no tratamento do Parkinson, potencializando ou reduzindo seus efeitos. Por isso, o acompanhamento médico é fundamental.
Regulamentação do CBD no Brasil
No Brasil, o uso do canabidiol foi autorizado pela Anvisa em 2015. Hoje, pacientes podem ter acesso de duas formas:
- Produtos à base de CBD vendidos em farmácias sob prescrição especial.
 - Importação de produtos de CBD, mediante autorização da Anvisa.
 
Isso significa que o paciente com Parkinson pode, sim, usar o CBD de forma legal, desde que haja indicação médica.
Tratamentos não medicamentosos que complementam o CBD
O CBD não deve ser visto como única solução. Outros tratamentos continuam sendo fundamentais para quem tem Parkinson:
- Fisioterapia: melhora mobilidade, força e equilíbrio.
 - Fonoaudiologia: trabalha fala e deglutição, prevenindo engasgos.
 - Terapia ocupacional: adapta atividades do dia a dia para manter independência.
 - Atividade física adaptada: como caminhada, hidroginástica, pilates e dança.
 - Nutrição personalizada: dieta rica em fibras e adequada ao uso da levodopa.
 - Psicoterapia: apoio emocional para lidar com ansiedade e depressão.
 - Meditação e técnicas de relaxamento: ajudam a melhorar o sono e controlar a ansiedade.
 
O futuro do CBD no tratamento do Parkinson
Os estudos ainda estão em andamento, mas já mostram que o CBD pode se tornar uma ferramenta importante no controle de sintomas não motores do Parkinson. O próximo passo da ciência é confirmar, em pesquisas maiores, a segurança e eficácia a longo prazo.
É provável que, nos próximos anos, o CBD seja incorporado de forma mais ampla às diretrizes de tratamento do Parkinson, sempre como parte de uma abordagem multidisciplinar e personalizada.
Conclusão
O CBD não é cura para a Doença de Parkinson, mas é uma opção terapêutica promissora, especialmente para sintomas não motores como ansiedade, insônia, dor e psicose.
O mais importante é que o paciente saiba que existem diversas alternativas para melhorar a qualidade de vida, e que o tratamento deve ser feito em parceria com o médico.
👉A esperança é real, mas precisa caminhar junto com informação, cautela e acompanhamento especializado.