Quando se fala em Doença de Parkinson, a maioria das pessoas pensa logo nos tremores, na rigidez e na lentidão para se movimentar. Esses realmente são os sintomas mais visíveis. Mas existe um outro lado, muitas vezes silencioso, que impacta profundamente a vida do paciente: os sintomas não motores.
Eles podem afetar o sono, o humor, a memória, a digestão, o controle da bexiga e até a pressão arterial. A boa notícia é que, conhecendo esses sintomas, existem formas de tratá-los e melhorar bastante a qualidade de vida.
O que são sintomas não motores?
Os sintomas não motores são aqueles que não envolvem diretamente os movimentos. Eles podem surgir cedo, até mesmo antes dos tremores, e costumam se intensificar com o passar do tempo. Entre os mais comuns estão:
- Problemas de memória e atenção
 - Depressão, ansiedade e apatia
 - Dificuldades para dormir ou sonolência em excesso durante o dia
 - Dor crônica e fadiga
 - Constipação (prisão de ventre) e outros problemas digestivos
 - Alterações urinárias e sexuais
 - Queda de pressão ao se levantar (hipotensão ortostática)
 - Excesso de saliva (sialorreia)
 
Esses sintomas, apesar de menos falados, podem ser tão incapacitantes quanto os motores.
Alterações de memória e pensamento
Muitos pacientes apresentam esquecimentos, dificuldade de concentração e lentidão no raciocínio. Em fases mais avançadas, pode ocorrer demência associada ao Parkinson.
Tratamento medicamentoso:
- Remédios como donepezila e rivastigmina podem ajudar na memória e no comportamento.
 - Memantina também pode ser usada em alguns casos mais graves.
 
Tratamento não medicamentoso:
- Estimular o cérebro com leitura, jogos, música e conversas.
 - Manter uma rotina organizada com lembretes e apoio da família.
 
Saúde emocional: depressão e ansiedade
Até metade dos pacientes com Parkinson pode ter depressão, e muitos sofrem de ansiedade ou apatia.
Tratamento medicamentoso:
- Antidepressivos (como venlafaxina, paroxetina e nortriptilina) têm boa resposta.
 - O remédio dopaminérgico pramipexol também ajuda na depressão ligada ao Parkinson.
 
Tratamento não medicamentoso:
- Psicoterapia e grupos de apoio trazem acolhimento.
 - Atividade física regular libera endorfina e melhora o humor.
 - Técnicas de respiração e meditação ajudam no controle da ansiedade.
 
Distúrbios do sono
Dormir mal é uma das maiores queixas de quem tem Parkinson.
Insônia
- Medicamentos: melatonina, clonazepam e trazodona.
 - Não medicamentosos: rotina de sono regular, ambiente silencioso e escuro, evitar café e telas à noite.
 
Sonolência diurna
- Medicamentos: modafinil pode ajudar em casos mais graves.
 - Não medicamentosos: cochilos curtos programados, ajuste das doses de remédios que causam sono.
 
Distúrbio do sono REM
A pessoa “atua” os sonhos, podendo se mexer ou até cair da cama.
- Medicamentos: clonazepam e melatonina.
 - Não medicamentosos: medidas de segurança no quarto (grades, colchão no chão, retirar objetos perigosos).
 
Pernas inquietas
- Medicamentos: dopaminérgicos (levodopa, pramipexol), gabapentina e pregabalina.
 - Não medicamentosos: alongamentos, evitar café, prática de exercícios leves.
 

Dor e fadiga
Dor
A dor é até três vezes mais comum no Parkinson. Pode ser muscular, articular ou neuropática.
- Medicamentos: safinamida, rotigotina e, em alguns casos, duloxetina.
 - Não medicamentosos: fisioterapia, alongamentos, pilates, exercícios de baixo impacto (como caminhada e hidroginástica).
 
Fadiga
Cansaço intenso mesmo sem esforço.
- Medicamentos: rasagilina mostrou benefício em alguns estudos.
 - Não medicamentosos: atividade física leve e regular, descanso programado, terapia ocupacional para organizar a rotina.
 
Alterações do sistema nervoso autônomo
Queda de pressão (hipotensão ortostática)
- Medicamentos: fludrocortisona, midodrina ou droxidopa (em casos graves).
 - Não medicamentosos: beber mais água, usar meias elásticas, levantar-se devagar, dormir com a cabeceira elevada.
 
Dificuldade para engolir (disfagia)
- Medicamentos: em alguns casos, toxina botulínica pode ajudar.
 - Não medicamentosos: acompanhamento com fonoaudiólogo, adaptação da consistência dos alimentos, exercícios de deglutição.
 
Salivação em excesso (sialorreia)
- Medicamentos: toxina botulínica nas glândulas salivares, glicopirrolato em curto prazo.
 - Não medicamentosos: exercícios de deglutição, chicletes sem açúcar para estimular engolir.
 
Alterações urinárias
- Medicamentos: mirabegrona para bexiga hiperativa, toxina botulínica na bexiga em casos resistentes.
 - Não medicamentosos: fisioterapia pélvica, controle da ingestão de líquidos.
 
Constipação e problemas digestivos
- Medicamentos: macrogol, lubiprostona e probióticos.
 - Não medicamentosos: dieta rica em fibras, hidratação, exercícios e massagem abdominal.
 
Disfunção sexual
- Medicamentos: sildenafil (Viagra®) e tadalafila em homens, terapia hormonal em alguns casos.
 - Não medicamentosos: terapia de casal, psicoterapia, uso de lubrificantes em mulheres.
 
Conclusão
Os sintomas não motores da Doença de Parkinson podem ser silenciosos, mas têm grande impacto no dia a dia. O tratamento precisa ser personalizado, combinando medicamentos e medidas não medicamentosas.
A mensagem principal é: não existe tratamento único. Com uma boa equipe médica, apoio da família e pequenas mudanças no estilo de vida, é possível conviver melhor com a doença e ter mais qualidade de vida.