Nem sempre um tremor ou rigidez muscular significa Doença de Parkinson. Em alguns casos, esses sintomas são causados por efeitos colaterais de determinados remédios. Essa condição é chamada de Parkinsonismo Induzido por Medicamentos (DIP).
O DIP é mais comum do que se imagina e pode gerar confusão tanto para pacientes quanto para médicos. Por isso, é fundamental entender como ele surge, quais medicamentos podem desencadeá-lo e como diferenciá-lo do Parkinson verdadeiro.
O que é o Parkinsonismo Induzido por Medicamentos?
O Parkinsonismo Induzido por Medicamentos (DIP) é uma condição em que os sintomas típicos do Parkinson, como tremor, rigidez e lentidão, aparecem devido ao uso de certos fármacos.
Diferente da Doença de Parkinson clássica, o DIP não é causado pela degeneração dos neurônios produtores de dopamina, mas sim por alterações químicas provocadas pelos medicamentos no cérebro.
Isso significa que, em muitos casos, os sintomas podem melhorar ou até desaparecer quando o medicamento é suspenso ou substituído.
Quais medicamentos podem causar DIP?
Os principais responsáveis são remédios que interferem na dopamina, neurotransmissor essencial para o controle motor.
Grupos de medicamentos mais associados ao DIP:
- Antipsicóticos típicos (como haloperidol e clorpromazina)
- Antipsicóticos atípicos, especialmente em doses altas (como risperidona e olanzapina)
- Antieméticos (como metoclopramida e domperidona, usados para náuseas e vômitos)
- Alguns bloqueadores de canais de cálcio e remédios cardiovasculares
- Medicamentos usados em vertigem e tontura
Nem todos os pacientes que usam esses medicamentos desenvolvem DIP, mas o risco é maior em pessoas idosas e mulheres.
Sintomas do DIP
Os sintomas são muito semelhantes aos da Doença de Parkinson clássica:
- Tremor nas mãos ou braços
- Rigidez muscular
- Lentidão dos movimentos
- Alterações de equilíbrio
Algumas pistas que ajudam a diferenciar do Parkinson verdadeiro:
- Os sintomas costumam ser bilaterais (afetam os dois lados do corpo desde o início).
- Muitas vezes começam logo após iniciar ou aumentar a dose de um medicamento.
- A melhora pode ocorrer após a suspensão do remédio causador.
Como diferenciar DIP da Doença de Parkinson?
Distinguir DIP de Parkinson clássico pode ser um desafio, mas existem alguns pontos-chave:
| Aspecto | Doença de Parkinson | Parkinsonismo Induzido por Medicamentos (DIP) |
| Causa | Degeneração progressiva dos neurônios produtores de dopamina | Uso de certos medicamentos |
| Início | Geralmente unilateral (um lado do corpo primeiro) | Quase sempre bilateral desde o início |
| Evolução | Progressiva e crônica | Pode melhorar após suspender o medicamento |
| Resposta à levodopa | Geralmente boa | Variável; muitas vezes limitada |
Em casos duvidosos, o neurologista pode solicitar exames como SPECT-DaTscan, que avalia a integridade dos neurônios dopaminérgicos.
Tratamento do Parkinsonismo Induzido por Medicamentos (DIP)

O tratamento do DIP tem como foco corrigir a causa e aliviar os sintomas. Diferente da Doença de Parkinson, que é progressiva, o DIP muitas vezes pode ser reversível.
Revisão da lista de medicamentos
O neurologista faz uma avaliação completa de todos os remédios em uso. Mesmo medicamentos aparentemente simples (como remédios para enjoo ou tontura) podem estar relacionados ao DIP.
Suspensão ou substituição do medicamento causador
- Quando possível, o remédio suspeito deve ser suspenso.
- Se ele for necessário para o tratamento de outra condição, o médico pode optar por uma substituição por outro com menor risco de causar sintomas parkinsonianos.
Exemplo: em pacientes que precisam de antipsicóticos, a quetiapina ou a clozapina costumam ser opções mais seguras em relação ao risco de DIP.
O que esperar após a suspensão da medicação?
- Em muitos casos, os primeiros sinais de melhora aparecem em 4 a 6 semanas.
- A melhora pode ser parcial ou completa, variando de paciente para paciente.
- Em cerca de 70% dos casos, os sintomas desaparecem completamente dentro de alguns meses (até 6 meses).
- Em alguns pacientes, especialmente idosos ou com predisposição genética, os sintomas podem persistir. Nesses casos, acredita-se que o medicamento apenas “desencadeou” uma Doença de Parkinson silenciosa, que já estava latente.
Medicamentos auxiliares
- Em situações específicas, o neurologista pode prescrever remédios antiparkinsonianos, como levodopa ou amantadina, para aliviar temporariamente os sintomas.
- Contudo, o DIP nem sempre responde bem a esses fármacos, e eles só devem ser usados quando necessário.
- O foco principal deve permanecer em eliminar a causa.
Reabilitação multidisciplinar
Mesmo após a suspensão do medicamento, o paciente pode se beneficiar de terapias de suporte:
- Fisioterapia: melhora rigidez, equilíbrio e marcha.
- Terapia ocupacional: ajuda nas atividades do dia a dia durante a recuperação.
- Exercícios físicos regulares: caminhada, hidroginástica, pilates ou dança podem acelerar a melhora funcional.
- Psicoterapia e apoio emocional: especialmente importantes em pacientes que fizeram ajustes em medicações psiquiátricas.
Prognóstico e acompanhamento
- A maioria dos pacientes apresenta evolução favorável após o ajuste da medicação.
- Consultas de acompanhamento devem ocorrer a cada 4 a 8 semanas, principalmente nos primeiros meses.
- Se não houver regressão após 6 meses, é importante investigar a possibilidade de Doença de Parkinson verdadeira.
Quando procurar ajuda médica?
Se você ou um familiar começou a usar um novo medicamento e pouco tempo depois apresentou sintomas como:
- Tremores
- Rigidez muscular
- Lentidão dos movimentos
- Alterações no equilíbrio
Procure um neurologista especializado em distúrbios do movimento. O diagnóstico precoce pode evitar anos de confusão com Parkinson verdadeiro e garantir o melhor tratamento.
Conclusão
O Parkinsonismo Induzido por Medicamentos (DIP) é uma condição relativamente comum e muitas vezes confundida com Parkinson.
A boa notícia é que, diferentemente da Doença de Parkinson, o DIP costuma ser reversível. Na maioria dos casos, os sintomas melhoram em semanas e desaparecem em até seis meses após a suspensão do remédio causador.
O acompanhamento especializado é essencial para definir se os sintomas são realmente causados por medicamentos ou se revelam o início de uma Doença de Parkinson.
Referência:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36573102/